
Sabia que o Papai Noel não goza do mesmo prestígio por aqui? São os Reis Magos que trazem os presentes de Natal em Madrid – e só no dia 6 de janeiro. Este é meu segundo post sobre costumes madrilenhos. Perdeu o primeiro? Escrevi sobre a famosa siesta, os horários peculiares de Madrid e muito mais. Veja só!
Dois começos de ano
Dizem as más línguas que o ano só começa depois do Carnaval no Brasil. Pois aqui começa antes, mas não no dia 1º de janeiro. Muito pelo contrário, já que o primeiro dia do ano costuma ser um feriado bem tranquilo para o padrão agitado de Madrid. Quase nada abre mesmo. O ano começa, de verdade, em 7 de janeiro. Dia 6 é um feriado importante por aqui: dia de Reis, que trazem os presentes de Natal (enfim). Na véspera, 5, rola a tradicional Cabalgata de los Reyes, desfile que arrasta uma multidão para as ruas e gera mais expectativa do que Natal e Revéillon juntos.

Ou seja, até 7 de janeiro, parece que Madrid vive um enorme feriado, mesmo que muita gente trabalhe.
Passados oito meses, o ano recomeça. É isso mesmo. As férias grandes acontecem no meio do ano por aqui, como é normal no hemisfério norte, e muita gente viaja em agosto para fugir do calor sem praia de Madrid (saiba mais). Agosto é um mês tranquilo, com ruas mais vazias e menos trânsito na capital. A vida volta ao normal em setembro, quando as escolas e faculdades iniciam o ano letivo. É neste período que começa a temporada do futebol. A cidade fica cheia e agitada de novo. Por isso que rola essa sensação de início de ano em setembro.
Navidad y Nochevieja

Passei o fim de ano pela primeira vez por aqui em 2016 – e que frio. É neste período que a temperatura começa a cair com força e o povo já se prepara para a friaca de janeiro. Nunca bati tanto queixo em Madrid quanto na madrugada do Réveillon, com -2º marcando nos termômetros da Gran Vía.
O Natal, que eles chamam de Navidad, não é muito diferente do brasileiro. É comum fazer uma ceia com a família no dia 24 (na Nochebuena) e muitos almoçam juntos no dia 25 também. Os presentes, porém, chegam com “atraso”. São os Reis Magos que trazem os regalos, no dia 6 de janeiro, e não o Papai Noel.

Há árvores de Natal em Madrid, inclusive aquelas enormes e brilhantes nas ruas, mas os presépios (belenes aqui) parecem fazer mais sucesso. Alguns grandes ficam expostos em diferentes pontos da cidade no fim do ano – em 2016, tinha um bem bonito no CentroCentro, espaço cultural do Palacio de Cibeles. A decoração de Natal começa a colorir a capital no fim de novembro.
Um adendo: durante um pouco mais de um mês, a Plaza Mayor ganha um mercado a céu aberto, basicamente com enfeites de Natal. Vale a visita.

Pelo que pude observar, não há tantas manias nem superstições por aqui na virada do ano, que eles chamam de Nochevieja. Ao contrário do Brasil, em Madrid ninguém usa roupa branca, até por causa do frio. Vi muita gente de preto pelas ruas, inclusive. Em geral, a tradição é comer 12 uvas quando tocam as 12 badaladas da virada. O programa mais clássico é se reunir na Puerta del Sol, que fica lotadíssima. Eu não dei conta de encarar a multidão. Depois o povo segue para as festas e boates da capital.
Estações definidas, pero no mucho
Reza a lenda que por aqui há nove meses de inverno e três meses de inferno, mas é um exagero, claro. A verdade é que as estações são definidas e (mais ou menos) previsíveis. Aliás, se você tem dúvida de quando vir, escolha a primavera ou o outono sem hesitar. O inverno é frio para o padrão brasileiro, embora seja mais ameno do que o de boa parte das cidades europeias. São raros os dias com temperatura abaixo de zero – e, quando ocorre, costuma ser num horário em que estamos dormindo.
Já o calor é sofrido. O clima aqui é seco e eu me sinto no deserto durante o verão, principalmente em julho e agosto. A vantagem é que os dias ficam mais longos e não faltam terrazas para matar a sede (falarei melhor sobre isso abaixo). Em Madrid, a temperatura costuma subir ao longo da tarde – para descer de novo a partir de umas 21h. Ou seja, faz mais calor às 18h do que ao meio-dia, por exemplo.

Um fato curioso é que, apesar das estações definidas, o tempo dá umas surtadas quando menos se espera. Nevou no fim de março, já na primavera, quando o frio parecia ter ido embora (sendo que não havia nevado nem um dia sequer no inverno). Em junho, ainda primavera, o termômetro pulou para 40 graus absolutamente do nada. Passei mais calor no fim de junho do que em agosto, mês com as piores famas de tão quente, quentíssimo, quente pra burro. Já nas últimas semanas de agosto, verão ainda, a temperatura caiu de repente – senti um frio que não sentia há pelo menos quatro meses (olar, sinusite).
Mas, no geral, existe um padrão de temperatura nas quatro estações e você não vai ter muita dificuldade na hora de fazer a mala para me visitar em Madrid. Uma observação: não sei se por causa do clima seco, mas o fato é que a temperatura e a sensação térmica por aqui costumam ser equivalentes.
Céu muito azul

Embora ganhe um colorido lindo durante o pôr do sol, o céu de Madrid é quase sempre azul. Muito azul. E esse azul fica ainda mais intenso no inverno. Você vai passar um friozinho por aqui, com temperaturas em torno de 5 a 8 graus durante o dia, mas não se preocupe com chuvas recorrentes nem céu feio neste período. Um dia clássico de inverno em Madrid tem sol, céu azul e muitos casacos (luvas, cachecóis…). Aliás, fiz um post sobre o céu maravilhoso daqui; confira
Calefação x ar-condicionado
Notei que praticamente todo estabelecimento em Madrid tem calefação (e sempre forte). As casas também. Quando busquei apartamento para alugar neste ano, não vi um sem calefação. Ou seja, durante o inverno, você só vai bater queixo na rua. E vai ter que conviver com o vai e vem de frio (na rua) e calor (nos estabelecimentos e, principalmente, no metrô). Já apartamento com ar-condicionado não é tão comum. Nas minhas buscas, vi apenas dois com ar em aproximadamente dez visitados. Muitas pessoas acabam comprando um aparelho portátil quando alugam um apê por aqui.

A impressão que eu fico é que o madrilenho reclama do calor, mas gosta. Os bares e restaurantes têm ar, só que o aparelho costuma ficar numa temperatura discreta e nem sempre alivia o calorão. Assim como os cinemas. Mas aí eu vejo vantagem, já que no Brasil quase levo pantufa de tanto frio. A situação nas academias é mais dramática durante o verão. O ar é quase imperceptível e fica muito quente, algo próximo do inferno, ainda mais se comparar com as academias do Rio – sempre geladas.
Menção honrosa: o ar-condicionado dos ônibus funciona maravilhosamente bem no verão. Vejo muita gente abrir mão do metrô neste período.
Verão sem praia, mas ao ar livre

Repito: o madrilenho reclama, mas adora passar calor. Ninguém parece se assustar com as altas temperaturas do verão nem fugir do sol (lembrando que aqui não tem praia). As terrazas são as protagonistas quando faz calor em Madrid – algumas do lado de fora dos estabelecimentos e outras na cobertura dos bares, que eles chamam de azotea.
Por outro lado, os bares sem terraza costumam ficar vazios neste período, já que em Madrid ninguém quer saber de lugar fechado durante o verão. Mesmo quando a temperatura passa dos 40 graus. Basicamente todos os eventos da estação mais quente são ao ar livre: as festas, os shows, os festivais de cinema, os mercados etc.
Adorei a explanação sobre o Natal …não sabia 👍🏻
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Que bom, Aninha! 😊
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