
Escrevi um texto sobre o renascimento da Seleção Espanhola e os bons números de Lopetegui no comando da Fúria. O post seria publicado na sexta, quando o país estreia na Copa do Mundo contra Portugal. Pois bem. A dois dias do jogo, Lopetegui foi demitido pela Federação Espanhola de Futebol. Resumirei o imbróglio antes de contar os avanços táticos da seleção, já que não há assunto mais comentado por aqui atualmente.
Invicto, Julen Lopetegui vinha com prestígio e, às vésperas do Mundial, teve o contrato prorrogado até 2020. Só que o Real Madrid entrou em ação e contratou o técnico quando ninguém esperava. O presidente da federação nacional, Luis Rubiales, não foi comunicado da negociação. Descobriu quando a informação já havia chegado aos jogadores que estão na Rússia.
Então pediu ao presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, que segurasse o anúncio, provavelmente para depois da Copa, segundo matéria do El País. Três minutos após o pedido, porém, o clube divulgou oficialmente a contratação de Lopetegui. “Não podemos descobrir cinco minutos antes de um anúncio público. Fomos forçados a agir”, justificou Rubiales logo depois de demitir o treinador.

Quem assume a Fúria é Fernando Hierro, antes diretor esportivo da seleção. A escolha, às pressas, foi por alguém que conhece bem o grupo. O único porém é que Hierro, ex-jogador histórico do Real Madrid com quatro Copas do Mundo, teve apenas um ano de experiência como treinador principal.
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Repercussão na imprensa
A reviravolta reforçou a percepção de que na Espanha o Real Madrid tem mais poder do que a seleção. E provocou críticas na imprensa, inclusive madrilenha.
“Este Madrid fabrica antimadridismo” é o título do artigo escrito por Alfredo Relaño para o site do As, jornal esportivo com sede em Madrid. “Esta forma de ir pela vida, passando por cima de qualquer consideração que não seja o próprio interesse, me parece profundamente desagradável. Acabe isso como acabe, começou muito mal.”
Já o jornalista José Samano reprovou o técnico em seu texto no El País: “Mal o Madrid, pior Lopetegui”. José María García, na Rádio MARCA, também de Madrid, foi duro com os dois. “Florentino e Lopetegui se permitem o luxo de trair um país.”
Os madrilenhos ficaram divididos nas ruas e na internet. Apesar das muitas críticas no mesmo tom da imprensa, vi nas redes sociais bastante gente discordando da saída de Lopetegui na véspera da Copa, apesar dos pesares.
“Este Madrid fabrica antimadridismo (As.com).”
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Reação no vestiário

Não se sabe bem de que forma o elenco recebeu a informação nem como a bomba vai influenciar no rendimento do time. Muito se especula na imprensa sobre uma divisão de opinião dentro do grupo. Naturalmente, os jogadores do Real Madrid defenderam a permanência de Lopetegui na seleção. O capitão Sergio Ramos chegou a falar diretamente com o presidente da federação.
Para a imprensa esportiva da Catalunha, Ramos não teve respaldo do vestiário e perdeu a batalha por Lopetegui. “A maior parte da equipe se mostrou muito decepcionada com o treinador”, assegurou o Sport, jornal com sede em Barcelona.
Fala, Lopetegui
O técnico se emocionou na coletiva de apresentação ao Real Madrid. “Ontem foi provavelmente o dia mais triste da minha vida depois da morte da minha mãe, mas hoje é o mais feliz.” Ainda sobre a demissão: “Foi um dia surrealista, mas levo comigo o carinho e o respeito dos jogadores. Me deixaram fora do sonho de ser campeão do mundo, mas lidere quem lidere temos um grandíssimo time”.
Renascimento da Fúria
Na Copa de 2014, no Brasil, a Espanha foi eliminada dramaticamente já no segundo jogo da primeira fase. A queda precoce marcou o fim da era mais vitoriosa da Fúria, que ganhou uma Copa e duas Eurocopas de 2008 a 2012. Na Eurocopa de 2016, mais um fracasso. Juntados os cacos, sobrou a expectativa de volta por cima na Rússia.
A esperada renovação começou pelo comando: saiu Vicente del Bosque e entrou Julen Lopetegui, campeão europeu com a Espanha no sub-19 e sub-21. O fato de conhecer os jogadores desde a base pesou a favor do técnico. O desafio, além de recuperar a autoestima e a confiança, foi reorganizar o time mesclando peças antigas e novas.

Mesmo com a base mantida, La Roja precisava de mudanças. Com isso, se foram alguns jogadores importantes, inclusive no triunfo na Copa de 2010, caso do goleiro Casillas. Depois alguns novatos chegaram e se firmaram, como Isco e o brasileiro Thiago Alcântara. Aliás, são três brasileiros na Seleção Espanhola: Thiago, Diego Costa e Rodrigo Moreno.
A nova Espanha mantém o toque de bola como característica principal, mas é mais rápida e direta. A força do time está no meio de campo. Os destaques atualmente são Isco, que roubou a cena nas vitórias sobre Itália e Argentina, e David Silva. Eles recebem o auxílio luxuoso de Iniesta. A dúvida é no ataque: Diego Costa, Aspas e Rodrigo disputam a vaga.
Lopetegui não perdeu no comando da Fúria. Foram 14 vitórias e seis empates desde o período de classificação para a Copa do Mundo.
E agora?
A expectativa em Madrid é de que a Espanha chegue pelo menos à semifinal na Rússia, sendo que muitos acreditam no título. A imprensa espanhola costuma colocar o país ao lado de Brasil e Alemanha como os grandes favoritos. Bom, ao menos era assim até a demissão de Lopetegui.
Fica a dúvida por aqui se o episódio vai motivar e unir o grupo, num esquema “agora é com a gente”, ou se a instabilidade do momento vai influenciar no rendimento do time, que já estreia nesta sexta, às 20h (15h do Brasil), contra Portugal.
Jogos da Espanha primeira fase (Grupo B)
Portugal x Espanha, 15/06 (sexta), 20h
Irã x Espanha, 20/06 (quarta), 20h
Espanha x Marrocos, 25/06 (segunda), 20h
Provável time
De Gea, Carvajal, Sergio Ramos, Piqué e Jordi Alba; Busquets, Thiago (Koke), Iniesta, David Silva e Isco; Diego Costa
* Carvajal ainda se recupera de lesão. Na estreia, Odriozola e Nacho disputam a vaga.
Jogadores convocados
Goleiros
De Gea (Manchester United), Reina (Napoli) e Kepa (Athletic Bilbao)
Defensores
Carvajal (Real Madrid), Odriozola (Real Sociedad), Sergio Ramos (Real Madrid), Piqué (Barcelona), Azpilicueta (Chelsea), Jordi Alba (Barcelona), Nacho (Real Madrid) e Monreal (Arsenal)
Meias
Busquets (Barcelona), Thiago Alcântara (Bayern de Munique), Saúl (Atlético de Madrid), Iniesta (Vissel Kobe), Koke (Atlético de Madrid), Isco (Real Madrid), David Silva (Manchester City) e Marco Asensio (Real Madrid)
Atacantes
Diego Costa (Atlético de Madrid), Lucas Vázquez (Real Madrid), Aspas (Celta) e Rodrigo (Valencia)
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