Gran Vía de Madrid: história e renovação

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Parte do projeto da nova Gran Vía (crédito: prefeitura de Madrid)

A Gran Vía é um dos destinos preferidos dos turistas. Em média, 30 mil pessoas passam pelas calçadas da avenida diariamente, boa parte delas carregando máquinas fotográficas e sacolas de compras. Cartão-postal de Madrid, a Gran Vía vai ganhar cara nova em 2018, priorizando ciclistas e pedestres. Vai ser uma mudança e tanto, já que pela rua mais famosa da capital circulam cerca de 55 mil veículos por dia.

O projeto, incluído no plano de qualidade do ar de Madrid, espera reduzir a contaminação em 25% até 2020. As obras começaram em abril e terminam no fim de novembro (informação atualizada em 2018).

Mais de 100 anos de história

Quem vier a Madrid no fim de 2018 já vai conhecer uma Gran Vía ciclista e bem mais verde, segundo a prefeitura. Além disso, vai curtir uma rua cheia de história, com muitos edifícios centenários que mantêm sua arquitetura original. Aliás, a Gran Vía completou 100 anos em 2010. Foram necessárias duas décadas de obras para terminar os mais de 1.300 metros da avenida, que transformou a cidade em diversos aspectos, sobretudo econômico.

Por lá se instalaram, no início do século passado, as principais lojas, os melhores hotéis, as joalherias mais caras, os bares mais badalados, os cinemas mais importantes – eram mais de dez ao longo da Gran Vía. A avenida viveu seu esplendor nos anos 50 e 60. Ali circulavam Ava Gardner, Sophia Loren e outras estrelas. Era a Broadway de Madrid.

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Cine en la Gran Vía, de Francesc Català-Roca, 1953

A rua voltou ao auge durante La movida madrileña, no início da década de 80, com um público formado por escritores, cineastas, atores, músicos, fotógrafos, pintores etc. Eles costumavam se reunir em bares como o Chicote, hoje conhecido como Museo Chicote. Almodóvar era um dos clientes assíduos.

Não só de glamour viveu a Gran Vía. A avenida testemunhou o terror da Guerra Civil espanhola e os ataques de Franco à capital na década de 30. Mas viu também muita resistência. Por lá aconteceu a histórica manifestação de mulheres com lemas como “mais vale morrer de pé do que viver de joelhos” e “os fascistas não passarão”.

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Señoritas de la Gran Vía, de Francesc Català-Roca, 1955

Pela lente de Català-Roca

Para conhecer a história da Gran Vía, é imprescindível buscar o acervo do fotógrafo catalão Francesc Català-Roca, um dos nomes mais importantes da fotografia espanhola no século passado. As duas imagens acima são dele. Suas fotos, muitas da Gran Vía madrilenha, estão em livros e exposições por aqui.

Gran Vía se reinventa

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Gran Vía hoje (Joana Tiso / Entre tapas y cañas)

O fim dos anos 80 foi cruel para a Gran Vía, com traficantes e drogas afastando os visitantes. A avenida, porém, renasceu. Não com o glamour de antes, mas com importância inegável e estratégica para Madrid. Muitos restaurantes viraram cadeias de comida rápida e cafés, alguns cinemas deram lugar a lojas e por aí vai. Mas a bela arquitetura está lá e muitos estabelecimentos preservam sua história.

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Vista do Nice to meet you, restaurante do Dear Hotel, na Gran Vía (Joana Tiso / Entre tapas y cañas)

Os hotéis também seguem por ali, aos montes, e são sempre disputados pelos turistas. Alguns têm bares e restaurantes em sua cobertura, de onde é possível observar a Gran Vía toda, como o NH Collection, o Dear Hotel Madrid e o Vincci The Mint – todos abertos para o público em geral.

E a fama de Broadway madrilenha voltou com tudo: obviamente os musicais escolheram a Gran Vía como lar. Inclusive, quem curte o gênero pode ver a montagem de O Rei Leão no Teatro Lope de Vega (compre aqui).

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O Rei Leão na Gran Vía (crédito: Facebook do Teatro Lope de Vega)

A Gran Vía ainda tem alguns cinemas, como o histórico Cines Callao, construído em 1926. Mas, se você quiser ver um filme por ali, minha dica é seguir adiante sentido Plaza de España. A maioria das salas de Madrid passa filmes dublados (prometo um post sobre isso). Há, no entanto, dois cinemas apenas com versões legendadas pertinho da parte final da Gran Vía: Renoir Plaza de España e Cines Princesa (um dos meus preferidos).

Compras

As lojas são muitas por ali: Primark, H&M, Zara, Mango, Nike etc. A maioria com bons preços e promoções frequentes. Construída num enorme edifício de 1924, a Primark da Gran Vía é a maior da Espanha, com cinco andares e muitas pechinchas (há camisetas por três euros, por exemplo). A loja atrai uma multidão de turistas diariamente.

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Primark Gran Vía (crédito: site oficial da loja)

Seguindo à direita pela Calle Fuencarral, na altura do metrô da Gran Vía, você vai encontrar mais uma penca de lojas. Para quem busca marcas de luxo, no entanto, a melhor opção é partir para a Calle Serrano, no Barrio de Salamanca.

Na Plaza de Callao, mais ou menos no meio da avenida, você vai encontrar o Corte Inglés Preciados-Callao e a Fnac (antes Galerías Preciados). Se o objetivo for comprar livros, sugiro a Casa del Libro, com quatro andares de muita história. Precisamente 94 anos de estórias e leituras na Gran Vía.

Comes e bebes

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Terraza do Gourmet Experience em Callao (Joana Tiso / Entre tapas y cañas)

Os melhores restaurantes de Madrid não estão na Gran Vía. Se você quiser jantar por ali, indico o Oven Mozzarella Bar – não deixe de provar o mojito espetacular da casa (e eu amo a berinjela à parmegiana). Na verdade, há mais opções de lanches hoje em dia, como Five Guys, dono do hambúrguer favorito do Obama, VIPS e 100 montaditos (eu gosto de todos).

Porém, se você caminhar uns poucos minutos, vai encontrar boas ofertas de comida, como as paellas do La Barraca e as carnes do MU! El placer de la carne. Para beliscar e tomar algo, sugiro o Gourmet Experience do Corte Inglés de Callao, com pizzaria, japonês, wine bar, sorveteria e muito mais.

Atualizando em 2018: o Gran Clavel, restaurante e bar do Hotel Iberostar Las Letras, no início da avenida, é o novo queridinho de Madrid. Vale muito a visita!

Edifícios históricos

Edifício Metrópolis (Joana Tiso / Entre tapas y cañas)

A arquitetura da Gran Vía é repleta de história. Um dos cartões-postais de Madrid, o Edifício Metrópolis está situado entre Alcalá e Gran Vía, bem no começo da avenida, e tem mais de um século de vida. Foi construído para abrigar uma companhia de seguros. É imponente e rende lindas fotografias.

Em seguida, perto do metrô Gran Vía, está outro símbolo da cidade: o Edifício Telefónica, inaugurado em 1930 e com mais de 90 metros de altura. Hoje em dia abriga o Espacio Fundación Telefónica, centro dedicado à atividade cultural e ao debate, com exposições, oficinas e encontros focados na vanguarda artística e tecnológica.

Você vai encontrar mais dois edifícios emblemáticos na Plaza de Callao, bem na metade da Gran Vía: Cines Callao e Palacio de la Prensa, que caminham para os cem anos. Muita coisa mudou por ali – a região hoje em dia é chamada de Callao City Lights, com telões de LED ao redor e muito movimento. Mas os edifícios seguem intactos e impregnados de histórias. Os dois têm salas de cinemas, com capacidade para 2.219 pessoas no total.

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Cines Callao à esquerda e Gran Vía à direita registrados do Corte Inglés de Callao (Joana Tiso / Entre tapas y cañas)

Onde fotografar a Gran Vía

A melhor forma de fotografar a Gran Vía é no topo de Madrid. Há ótimas opções de terrazas na cobertura de edifícios, que eles chamam de azotea. Destaco duas: a do Círculo de Bellas Artes, na Calle de Alcalá, de onde é possível observar o Edifício Metrópolis e o início da Gran Vía, e o Gourmet Experience, no último andar do Corte Inglés de Callao, com vista para o colorido Callao City Lights e a segunda metade da Gran Vía (rumo à Plaza de España).

Localização

A Gran Vía começa na Calle de Alcalá, logo depois da Plaza de Cibeles, e termina na Plaza de España. A avenida separa algumas das principais regiões do centro de Madrid, como Puerta del Sol (à esquerda) e Chueca e Malasaña (à direita). Há muitas atrações turísticas a poucos minutos da Gran Vía, entre elas a Plaza Mayor, o Palacio Real e o Museo del Prado. As estações de metrô mais próximas são: Banco de España, Gran Vía, Chueca, Callao, Sol, Santo Domingo e Plaza de España.

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Metrô Gran Vía (Joana Tiso / Entre tapas y cañas)

9 comentários Adicione o seu

  1. Maria Aparecida Garcia disse:

    Muito bom seu jeito de comentar a cidade. Voltei de lá recentemente, fotografei muito. ,a faixa de boas vindas ao refugiados, td aquilo .

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    1. Joana Tiso disse:

      Obrigada, adorei o recado! 🙂 Espero que tenha curtido a viagem. Bjos

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